] quarta-feira, abril 25, 2012
 
faz quase um ano que parei de treinar. primeiro, faltou tempo, porque eu dava aula em outra cidade. depois, faltou dinheiro. eu senti primeiro o cansaço, porque treinar boxe te deixa preparado pra qualquer outra luta. comecei a cansar muito. depois, senti a necessidade de buscar o que a endorfina dos treinos me trazia. comecei a engordar de novo. depois, senti que aquela rotina de subir a ladeira da minha rua enquanto enrolava as ataduras nos dedos e controlava a respiração no passo rápido do aquecimento, ou de sair pro treino fizesse chuva, 2 graus negativos ou soprasse o pior Minuano, era o que mantinha minha mente em paz, era o que me fazia ter força pra continuar trabalhando, mesmo quando o corpo pedia descanso. era o que me dava força pra raciocinar mesmo sem ter dormido muito. era o que me dava disciplina.

mas parar com os treinos me afastou também dos meus comparsas de luta. pessoas com quem eu aprendi, pra quem eu ensinei, com quem passei a maior parte da minha semana nos dois últimos e terríveis anos da tese. pessoas que me olhavam no olho enquanto esquivavam dos meus golpes, pessoas de quem eu aprendi o ritmo, as falhas e as virtudes. foram companheiros, foram adversários, foram treinadores e treinandos.

e hoje, olhando fotos daquela época, me dei conta de que a imensa falta que eu sinto do boxe e dessas pessoas é porque a disciplina, a força pra aguentar às vezes dor, às vezes cansaço, às vezes ambos, o companheirismo e a rotina dos treinos literalmente salvaram minha vida. numa fase muito difícil, quando eu não dormia mais que 3 horas por noite, eu ia treinar religiosamente. eu não conseguia colocar nada na boca, porque sentia vontade de vomitar o tempo todo, mas porque eu precisava estar forte pra lutar, eu me forçava a comer antes de cada treino. quando eu não queria ver ninguém, porque tudo machucava, eu colocava o treino em primeiro lugar. quando eu passava meus dias agachada chorando, ou a noite escrevendo tantas páginas do meu diário, pra poder me livrar do sofrimento, eu não queria ir pro boxe. mas eu ia. então, quando eu digo que o boxe salvou a minha vida, não é modo de dizer. salvou, porque depois que eu parei de pensar em qualquer outra coisa que me impedia de tentar acabar logo com tudo, o boxe foi a única coisa que me impediu de engolir de uma vez só todos os remédios pra dormir que eu tinha parado de tomar porque me impediam de pensar, e que eu guardava numa caixinha pro dia em que decidisse parar mesmo de pensar, pra sempre. foi a única coisa que me impediu de ir até o fim com a faca e cortar logo o fluxo daquele sofrimento. eu decidi isso tantas vezes. mas quando eu não pensava em mais nada que me segurasse aqui, foi o boxe quem me impediu.

não tenho vergonha de parecer fraca porque pensei em fugir tantas vezes. eu estava fraca. a depressão tira uma das coisas que sempre sobrevivem num ser humano, ainda que se possa sofrer muito: o sentido da vida. depressão, não tristeza. não "uma fase ruim". não "época meio conturbada". depressão é uma coisa que funciona cortando qualquer sentido que viver possa fazer. e quando o sofrimento é tão extremo e a vida não tem mais sentido, o que nos segura? lutar foi o que me segurou.

[ Penkala ] 00:00 ] 0 comentários

 
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