] quarta-feira, junho 27, 2012
 
sou uma cientista, tu sabes. e eu conheço mais do que ninguém os clichês dos filmes dramáticos. talvez por isso eu me sinta tão pouco à vontade no papel da cientista solitária no meio das pilhas de livros, mas sofrendo por ter que guardar certas coisas só pra mim. sou uma cientista, tu sabes, e não deveria estar achando que isso seja razoável. mas se colocar um manuscrito numa garrafa não é razoável, deverias saber que para os corações góticos das cidades úmidas das Américas ou do Velho Mundo, nada é razoável. o que escrevo e deixo no mar, apesar de tudo, não é a ficção científica de Poe. quem dera fosse ficção.

da minha terra e da minha família pouco tenho a dizer... apenas que o clima me deixa melancólica, e que a mesa é farta. se da mesa farta ando um tanto afastada, isolada no lugar onde passo meus dias trabalhando, vendo o prédio da faculdade da minha janela, da melancolia, quisera. a melancolia é a companheira ora confortável, ora ingrata de uma jovem cientista com o coração fechado. meu coração, tu sabes, está escondido num livro clássico que não leio, como uma rosa que vai, aos poucos, sendo esmagada entre as maravilhas da literatura científica. me entrego a ela, entrego meus dias e noites ao apenas pensar, problematizar, questionar, inventar questões pra que possa passar algum tempo tentando resolvê-las, quando não estou insone tentando fugir de mim mesma. tu bem sabes, meus luxos são poucos: a fuga do sono me parece o castelo mais confortável que um cientista de coração fechado pode ter.

tenho pensado tanto, e nas voltas que meu pensamento dá, me pego duvidando de que um dia eu seja capaz de encontrar a resposta pra pergunta que tem tirado meu luxuoso sono: por que atravessaste meu caminho? que karma nos une? qual a lição devo aprender? ou é só dor? ou é apenas a ausência? a saudade? sou uma cientista burra. continuo em busca da chave do armário onde talvez esteja escondida a resposta pra isso. estás mesmo disposto a arrombar o armário, caso não achemos a chave? o que devo aprender sobre a ciência não está no segundo volume da obra que tenho em casa, não está na minha ida e vinda da faculdade, não está nas longas horas que dedico a pensar antes de, finalmente, cair no sono. só o que sei é que se encontraste este manuscrito dentro de uma garrafa trazida por uma onda, é porque ele viajou por esse espaço de ausência pra chegar nas tuas mãos. é porque escrevi e joguei no mar, esperando também que o mar levasse as minhas tantas dúvidas, esperanças, desejos mais fortes. eu sei que jamais compreenderei os avanços na química de proteínas se não ler o volume 1. é como se dar um passo à frente e ler o volume 3 não fosse possível sem retornar ao ponto onde tudo isso começou. sou uma cientista, tu sabes. entre UMA BREVE HISTÓRIA DO TEMPO e O SISTEMA DA NATUREZA, existe uma coleção clássica de um livro só. ou completo a coleção, ou minha estante jamais vai deixar de cobrar por essa falta.

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] segunda-feira, junho 25, 2012
 
vendo meu álbum de fotos de FAMÍLIA & AMIGOS vi umas tantas pessoas que foram embora. que coisa dolorida é isso de as pessoas sempre irem embora. com umas perdi contato de tal maneira que de unha e carne se tornaram somente conhecidos. outras, decidiram se retirar por motivos que eu jamais vou entender. outras simplesmente foram embora, ou eu fui embora, mas ainda temos o vínculo forte. são aqueles pra quem eu teimo, e vou teimar em dizer sempre, que tenho uma saudade monstra. e tem ausência, espaço, uma foto de um momento de pura alegria e descoberta; um dia feliz de atividades (para)normais; o olhar que nunca se apaga. pra quem eu teimo em dizer que sinto saudade, mas estou mentindo. porque saudade a gente sente, sorri, lembra, e continua a vida. tem a foto pra quem confidencio sempre: falta. a falta é um espaço por preencher, é um espaço de esperança, é um espaço que dói. não se sorri, apenas se continua a vida carregando o peso da falta.

[ Penkala ] 03:02 ] 0 comentários

 
] domingo, junho 24, 2012
 
às vezes eu me sinto sozinha no meio de todos contra mim. às vezes, no meio de todos virados de costas pra mim. a única coisa que talvez me ligue ao mundo real dos seres humanos (eu me entendo tão bem com os cachorros!) é a esperança sem fim de encontrar num desses seres humanos o alívio pra uma existência que tem sido mascarada. eu uso máscaras o tempo todo pra que não reconheçam minhas fragilidades, mas principalmente minha falta de disposição em lidar com gente que me irrita, enoja ou simplesmente não me interessa. uso máscaras porque isso assusta as pessoas. embora eu tenha o luxo de não ser mais obrigada a conviver com muita gente que me provoca algum sentimento ruim por muito tempo. mas quando tenho, uso máscaras.

não que use máscaras pra não mostrar pra elas o rosto monstruoso que existe por trás dessa cara de óculos e olhos azuis. às vezes só pra esconder minha falta de habilidade em ser normal. porque isso também assusta as pessoas.

a esperança sem fim de encontrar seres humanos que me deem o alívio de viver sem máscaras me faz achar gente muito interessante. com quem tenho o prazer de ou conviver, ou trocar algumas palavras de vez em quando, ou até acreditar que possa ter um alívio ainda maior, que é poder dormir sem medo de que descubram meu pior lado.

mas basicamente, a existência tem sido dividida entre estar sozinha e armada contra todos e estar sozinha entre tantas costas viradas pra mim, no ombro de quem algumas poucas vezes toco perguntando, por códigos, se aquela pessoa é um dos meus.

desde muito cedo soube que era inadequada. não me encaixava em nenhum lugar. não que eu não sofresse com isso. eu apenas sabia, desde muito cedo também, que eu não tinha escolha. ou eu me adequava, ou permanecia isolada. e me adequar requeria, requer e sempre vai requerer agir normalmente. de verdade. falar de coisas normais, ser normal, viver normalmente e pensar coisas normais. não sei se por falta de interesse nisso ou se por profunda falta de habilidade, nunca vi isso como uma opção válida. então continuo sendo inadequada. nessa inadequação, aprendi a identificar seres com quem podia compartilhar o lugar inadequado. tão inadequados quanto eu. porque tenho simpatia por quem causa horror nas pessoas pelo simples fato de agir honestamente. e não estou falando desses "honestos de butique", que se dizem autênticos e não passam de pessoas que não sabem viver em sociedade. uma coisa é ser honesto e autêntico, outra é não ser civilizado. uma coisa é não ir a uma festa de confraternização da empresa porque tu acha que é idiota abraçar e confraternizar com pessoas que tu odeia, outra é tu ir e ser escroto com todos. digo honestos mesmo. que dizem quando não querem fazer algo, que assumem suas posições, que não dizem coisas bonitinhas pra alguém ouvir porque precisam dessa pessoa pra obter algum benefício.

o que eu não sabia era o quanto isso ainda ia me fazer sofrer MAIS. porque ou as pessoas são honestos de butique, mostrando toda sua mediocridade por trás da máscara de autênticos, ou as pessoas de fato vão do mínimo, o normal, pro máximo, o imbecil total, numa escala que consegue reunir  basicamente a maioria das pessoas que eu conheço. ou, numa terceira e não menos terrível opção, as pessoas são ex-inadequados. aqueles que fazem o esforço de vestir a máscara tantas vezes e com tanto afinco, que terminam virando normais. eu não culpo estas. aliás, nem culpo a maioria das pessoas. porque daqui, de onde estou, começo a ver que vai chegar um dia em que vou olhar pro lado pra tentar falar alguma coisa que acho importante e vou encontrar apenas zumbis. e de que adianta viver num mundo de zumbis sendo a única viva? talvez seja pior que ser um zumbi no meio de tantos vivos. e acho que, por pensar assim, tenho sido um zumbi há tanto tempo. mas, em vez de cérebros, eu procuro corações pra comer.

[ Penkala ] 23:59 ] 0 comentários

 
] quarta-feira, junho 20, 2012
 
me dar conta, cada dia mais, que meu coração não está vazio e frio, como eu vinha achando há muito tempo, mas sim preenchido por algo que está lá escondido no escuro é difícil. por um lado, é bom. me faz sentir viva, me faz sentir bem, me faz ter esperança. por outro, me dá medo. porque me dar conta, de repente, que o que eu tentei esquecer por uns 2 anos quase talvez não possa ser esquecido significa que eu preciso me preparar pra sofrer. ainda que há muito tempo não sentisse uma sensação tão boa quanto agora. tempos e distâncias e nem meses sem sequer ouvir falar não apagaram. desencontro não apagou. mágoa não apagou. um oceano vai apagar? pro meu bem, espero que a única coisa que eu sempre gritei - RESPIRA! - seja o que eu melhor saiba fazer agora. respirar, mergulhar no tempo e esperar estar noutro lugar quando vier à superfície de novo.

[ Penkala ] 22:34 ] 0 comentários

 
] terça-feira, junho 12, 2012
 
oh, capitão, meu capitão,
escrevo esta carta sem saber se jogo no oceano, se mando pelo correio, se deixo virar um fantasma. escrevo sem saber se encontro quem a receba, se, no idioma que escrevo, vais saber ler.
escrevo fazendo um pedido. capitão, meu capitão, um pedido sincero. que me salves do lirismo vazio, que me livres da poesia sem aura, que me deixes afundar no teu sofá e me contes piadas científicas até que eu durma.

oh, capitão, meu capitão, escrevo por não saber dizer, por não poder expressar, escrevo por precisar do teu conselho prático, da forma pragmática como enxergas a vida, ainda que exista poesia no teu método, ainda que exista uma beleza lírica nas tuas pirotecnias, ainda que exista verso nas tuas teses. capitão, meu capitão, escrevo porque preciso decifrar fórmulas. escrevo porque ainda acredito na ciência. escrevo porque perdi a fé na humanidade. escrevo porque sei que compartilhas do vazio da nostalgia de tempo nenhum, porque sei que compreendes minha necessidade de evidências. porque sei que da bruma não depreendes só a boemia dos invernos europeus, mas as partículas que nos afastam e nos unem. porque sei que o minuano que me faz chorar quando vem direto nos meus olhos não passa de um barco desgovernado, sem comandante, derivando em outros mundos e me afastando dos meus horizontes.

[ Penkala ] 02:42 ] 0 comentários

 
eu uso óculos




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