] quarta-feira, outubro 31, 2012
 
às vezes tenho a sensação de que não valho nada. às vezes, de que valho, mas ninguém se importa. às vezes eu sinto que posso fazer alguma diferença, mas a vida me diz que eu sou apenas mais uma boba ingênua que acha que é especial. às vezes eu só queria que alguém me ajudasse a carregar o peso do dia. que às vezes é de tristeza, às vezes é de cansaço, às vezes é de frustração, às vezes é de medo. e que é sempre de solidão.

[ Penkala ] 17:33 ] 2 comentários

 
] sábado, outubro 13, 2012
 
depois de um dia longo, a noite fecha a porta atrás de mim e sou eu sozinha, sou eu por minha conta. e isso deveria não doer tanto. e eu tenho certeza, tive o suficiente, tive demais até pro que deveria desta vida. tenho certeza que já deu. mas eu tenho que continuar.
não quero desistir de mim mesma, embora já tenha desistido de muita coisa. deixei pra trás mais pedaços do que deveria, mais coisas do que aguentaria andar sem. não quero desistir de mim mesma porque todo mundo chora, eu sei, e eu vou chorar ainda mais. todo mundo se machuca, e eu vou me machucar ainda mais.
chega um dia em que todos os dias são o final triste de uma sexta-feira ruim. chega um dia em que tenho que dizer pra mim mesma pra só ter paciência e aguentar o dia. atravessar o dia como quem só pensa no que talvez venha depois. chegar do outro lado, apesar de tudo. eu aguentei tanto, eu aguentei firme, e aguentar mais parece simplesmente mais do que eu posso suportar. mas pra chegar do outro lado, eu preciso. aguentar.
quantas vezes eu me senti sozinha, mesmo não estando. e quantas vezes ainda me sinto, com razão? e quantas vezes ainda vou me sentir sozinha, e não vou poder largar tudo, simplesmente porque não vai ter ninguém que me segure quando eu cair. eu só acho que tive o suficiente. só acho que aguentei demais. e não demora, não vou mais suportar. todo mundo chora e todo mundo se machuca às vezes. eu estou cheia de chorar sempre. e estar sempre me machucando.

[ Penkala ] 16:04 ] 0 comentários

 
] sexta-feira, outubro 12, 2012
 

te aviso qualquer coisa

tá tudo errado”, pensei eu, enquanto ficava ainda me culpando por ser fraca, e por me deixar abalar por quem, na verdade, nem significa porra nenhuma. e me culpando por me culpar, no fim das contas. por ter pensado “o que diabos eu falei de errado?”.
mas eu não falei porra nenhuma errada. ou pelo menos não é assim que funciona. talvez o motivo pelo qual os homens continuem tendo esse comportamento escroto e covarde de simplesmente sair de órbita sem nem dar o prefixo seja culpa nossa. culpa nossa porque se a gente engole um troço desses e não fala nada; se a gente não demonstra que não, não tá tudo ok; se a gente age também como se nada fosse, está dizendo, calada, que tudo bem, que isso é normal, que não nos afeta. e não é que nos afete porque a gente acha que todos os caras são os caras com quem a gente quer casar ter filhos partilhar bens. o fato de uma pessoa nos tirar do nosso cantinho e respondermos positivamente e aceitarmos a investida e jogarmos esse jogo meio besta de flertagem boba nem sempre quer dizer que queremos mais que uma (ou mais) saída(s) agradável(eis). mas não quer dizer também que tanto faz como tanto fez. se a resposta é positiva, se a conversa tá boa, se o jogo tá andando, simplesmente agir como se nada tivesse acontecido é fazer uma pessoa de palhaça. é tratar uma pessoa como se ela fosse qualquer lixo.
mas por que agimos com indiferença em resposta a isso? é porque estamos pouco nos fudendo? não. agimos com indiferença porque existe uma “regra” tácita que todas as mulheres aprendem sabe lá de onde que diz que é muito indigno perguntar claramente pra alguém que te trata mal (ou como lixo, ou como qualquer ninguém) o motivo de estar sendo maltratado. aparentemente, somos moldadas pra engolir sapos, pra baixar a cabeça e aceitar desaforo, a ofensa gratuita, a violência emocional e física, o tratamento que muitos chamariam de passivo-agressivo. não, tu não recebeu um tapa, tu não foi xingada, nem sequer teve embate concreto. tu apenas passou – sem motivo – de a pessoa encantadora charmosa sensacional única mimosa linda e seja lá quantos elogios vazios que um homem besta é capaz de vomitar em cima de alguém pra preparar qualquer terreno pra pessoa por quem passam na rua como se nunca tivessem te visto, pra pessoa que se finge ser apenas mais uma numa lista qualquer de rede social.
agimos com indiferença por defesa, porque dizer que não gostou de ser tratada assim é humilhante, porque dizer claramente que não é qualquer pedaço de plástico pra ser usado ou não conforme a necessidade é uma chance pra ser tratada ainda pior. agimos com indiferença porque aprendemos, há alguns anos, que o comportamento escroto e covarde de alguns homens não apenas é normal como deve ser tolerado se quisermos ser levadas a sério como iguais, já que estamos reivindicando igualdade.
em bom português, sabe o que eu penso disso? foda-se essa merda toda. chega de se culpar quando é tratada como palhaça, como brinquedo, como qualquer pedaço de plástico. chega de achar que falou bobagem, que “espantou” um cara, de ficar calada não dando aos escrotos e covardes nem a chance de provarem 10% do que sentimos. eu me sinto ofendida, me sinto um lixo, recebo isso como um chute na boca sem eu nunca ter ofendido ou destratado ou chutado a boca da pessoa?, então essa pessoa vai pelo menos saber que sim, ela acabou de ofender, tratar como lixo ou chutar a boca de alguém. foda-se essa merda toda e chega de silenciar pra que achem que somos muito senhoras de nós mesmas quando na verdade isso é o mesmo que dizer: continuem fazendo merda como meninos mimados que são que acham que qualquer mulher é a mamãezinha de vocês: aguenta qualquer merda do principezinho porque o principezinho é o rei.
foda-se essa merda toda”, eu disse, e resolvi não ficar quieta. e resolvi também dar uma chance de a pessoa se explicar. afinal, todo mundo é inocente até prova em contrário. foda-se essa merda toda e eu perguntei: escuta, eu falei alguma coisa que te ofendeu? porque eu estranhei o fato de mil conversinhas fiadas, mil combinações e mil papos divertidos, um atrás do outro, pra depois o combinado ficar no ar como se nada fosse e o combinante sumir como se nunca fosse. a resposta veio meio dia depois, me tratando por uma das coisas que eu tenho mais que razão de odiar que me tratem: querida. somente argentinos podem me chamar assim, meu bom rapaz. argentinos, todos muito educados, e todos muito prestativos, em sua preocupação genuína com as pessoas que estão recebendo. do contrário, enfie esse querida no bolso, porque eu não sou criança, nem idiota, nem uma mulherzinha inútil. alguns homens diminuem as mulheres sem nem se darem conta disso. quando nos tratam como bebês, como incapazes, como fofurinhas mimosas queridinhas fulaninhas de talzinho. hey, HEY! sem essa de não querida é que essa semana tá corrida mesmo. sem essa de não querida não tem nada de errado é que eu tou ocupado/com problemas. “logo mais eu entro na rede e conversamos”, meu bom rapaz, é o mesmo que “i'll let you know”? é o mesmo que “espera sentada que quando eu estiver precisando eu te chamo”?

é.

e a prova em contrário veio a galope. nunca mais “entrou na rede” ou o que quer que falem esses sujeitos que não tem colhões de dizer que não estão a fim. e o que mais me irrita: quando eles é que procuraram, quando eles é que vieram de papinho, quando eles é que nos fizeram acreditar que o papo tava bacana e que existia algum respeito entre as partes. e eu só tenho a lamentar o azar, que faz com que quem realmente fica preocupado se te ofendeu, se te machucou, é quem está inacessível.

eu me culpo, sim. por não ter tomado antes a decisão de entrar com os dois pés calçados nos coturnos no meio dos peitos dessa porra toda, estabelecendo o simples limite: até agora, meu amigo, tu conheceu a querida. a partir daqui, tu só vai falar com a bruxa mesmo. ME OFENDO, SIM, QUANDO SOU TRATADA COMO QUALQUER PORCARIA. ISSO NÃO VAI ME MATAR, PORQUE EU NÃO DEPENDO DE APROVAÇÃO DE HOMEM PRA ME SENTIR GENTE. MAS EU NÃO NASCI PRA SER TRATADA COMO QUALQUER PORCARIA POR QUALQUER MERDA QUE ME APARECE PELA FRENTE. quando algum de vocês, que agem como escrotos e covardes, virar gente, me avisem qualquer coisa. let me know, ok?

[ Penkala ] 11:49 ] 0 comentários

 
] sexta-feira, outubro 05, 2012
 
é guerra?

eu me recuso a ter nojo de homem. cada vez que uma mulher diz algo parecido com "homem é tudo igual", eu me recuso a concordar. me recuso porque acho que isso generaliza comportamentos que não vejo em todos os homens que conheço. me recuso porque não vi meu pai ou meu avô fazendo coisas assim. me recuso porque isso me colocaria no desesperançoso lugar de admitir que eu nunca vou encontrar um sujeito que não repita pelo menos um desses comportamentos pra ser meu companheiro de uma vida.

mas me recuso ainda mais a fingir que os homens não estão, como gênero, dando motivos bem frequentes e ofensivamente demasiados pra que uma mulher fale isso. os homens são ótimos. como pais, avós, irmãos, colegas e, pra quem gosta de homem, companheiros e parceiros sexuais. homens são ótimos em coisas que só eles são ótimos. mas homens são péssimos em muitas, mas muitas coisas. e essas coisas ficam ainda mais numerosas e maiores quando se tem um sistema que as endossa, uma cultura que as permite, um organismo que propicia que essas coisas continuem sendo feitas. homens fazem coisas tão idiotas que me dá vergonha, às vezes, de dizer que gosto de homens.

e não, não livro meu pai. ou meu avô. ambos tremendamente humanos, éticos e generosos. e capazes de fazer, dizer e repetir comportamentos machistas. não comportamentos machistas como quando meu pai regulou minha saia um dia que ia a uma festa com um vestido acima do joelho quando tinha uns 13 anos. não comportamentos machistas como quando meu avô teve seus casinhos de guri fora do casamento. mas foram machistas, ainda em suas humanidades e éticas e generosidades.

mas a época deles era uma época em que as coisas eram diferentes. em que homossexuais apanhavam dos colegas e isso era coisa de se contar rindo. em que mulheres tratavam seus filhos homens com muita tolerância enquanto suas filhas eram criadas como verdadeiras guerreiras anônimas: as que lutam, se esfolam, defendem, mas morrem sem nenhuma honra na esfera da igualdade. minhas avós trabalharam e, muito pobres que foram, nunca se deram ao luxo de não batalhar por trazer o dinheiro suado pra botar comida na mesa. ainda assim, criaram seus filhos no sistema machista que permite que tantas injustiças sejam feitas até hoje em nome da superioridade dos direitos dos homens. meu avô tinha direito ao bife maior, como se não trabalhasse tanto quanto minha avó. meu avô abdicava desse direito, que lhe era concedido pela minha avó, pra que os filhos comessem melhor. admirava meu avô por isso, também. e fui a primeira a questionar o machismo da minha avó. ela, coitada, além de machista porque criada num sistema assim - nas freguesias quase medievais de um Portugal dos anos 30, 40 e 50 - era machista por acreditar mesmo que era inferior. trabalhou a vida toda. trabalhou até quase parir cada um dos 3 filhos. e depois voltou a trabalhar. ainda hoje, caduca aos 82 anos, tolera coisas do filho que não tolera das filhas.

[ é um texto longo. mas mais longa ainda é minha frustração de ver coisas acontecendo e ser chamada de louca. ou de ser tratada como objeto inanimado ]

hoje, o machismo do bife maior pouco existe. assim como pais já não regulam as saias das Ana Paulas de 13 anos. quando um homossexual apanha, o jornal não tem vergonha de noticiar. quando um marido tem casinhos fora do casamento, isso é tratado na esfera privada por uma mulher que cobra respeito. e hoje, o machismo está bem pior que era há alguns anos.

longe de mim achar que décadas de luta feminista não conquistaram nada. longe de mim achar que era melhor ser mulher nos anos 50. longe de mim achar que os homens dos anos 30 eram menos cruéis conosco. estou falando de algo bem diferente. estou falando que o machismo hoje é ainda pior que no passado. em primeiro lugar, porque dos homens que fazem coisas machistas, poucos admitem que é machismo por vergonha do título. em segundo lugar, porque o machismo se travestiu de igualdade em muitas circunstâncias, mas especialmente na esfera das relações interpessoais.

homens héteros usando maquiagem, homens héteros assumindo seu feminismo, homens héteros tendo comportamentos de tolerância e compreensão de diferenças e ainda assim de aceitação da igualdade de direitos devida às mulheres...

e ainda assim homens que consideram as mulheres como objetos.

não estou falando (só) da objetificação da mulher como quando nos sentimos aviltadas pelas propagandas de cerveja. essa objetificação que usa o termo clássico e que é bem mais complexa do que muitos costumam entender e bem mais simples de compreender do que muitos costumam pensar que é. estou falando de DESUMANIZAÇÃO.

é de se esperar que eu faça aqui um texto filosófico e social, como é do meu feitio acadêmico, não? pois não vou. vou escrever o que qualquer mulher sente com a covardia, o desrespeito, a falta de empatia dos homens. e eu vou falar de coisas que muitas mulheres sentem na carne todos os dias. e não é de apanhar, e não é de ser estuprada, e não é de ganhar menos no mesmo cargo que homens, como muitos acham que é (só) o que deve ser chamado de machismo. eu vou falar sobre covardia, sobre desrespeito. e sobre como é fácil demonstrar com exemplos reais o machismo subcutâneo que aflora nas relações interpessoais.

a maioria dos homens ainda hoje perpetua essa covardia, por exemplo, nas relações afetivas que vive. até um certo momento são homens até muito engajados, alguns dos quais agindo, na teoria, como verdadeiros exemplares de um feminismo masculino que só demonstra que não, nem todos os homens são iguais. é do gênero a dificuldade de empatia. mas é da evolução da humanidade a obrigação de superar defeitos de gênero. especialmente os defeitos que não apenas são levados ao extremo, como nos casos de violência, mas que criam no comportamento dos homens um padrão perigoso pras sociedades. mas até hoje, o que eu estou chamando de padrão perigoso ficou na conta do "radicalismo feminista", do "mimimi de recalcada" e do "caso isolado de foro íntimo/doméstico". quando é um padrão tão alastrado pelos comportamentos masculinos ainda hoje, se nota que a covardia ganha denominações as mais variadas pras quais a maioria dos homens tem uma desculpa pronta e esfarrapada. simplesmente ir comprar cigarro e nunca mais voltar é um desses exemplos de covardia. por que? porque muitos homens ainda não conseguem encarar as consequências de romper um relacionamento com uma mulher. primeiro, porque são umas crianças crescidas, sem preparo pra vida real. segundo porque não tem coragem de assumir seus atos. a maioria dos homens não assume o fim, não olha pra mulher no mesmo patamar e assume que fez merda, que traiu, que deixou de gostar, que não quer mais continuar. a maioria espera a mulher passar dias, meses ou anos se sentindo uma merda. espera ela acabar antes por falta de opções. mantém o relacionamento, mas nos bastidores faz de tudo pra que ela queira acabar. tem outros que simplesmente dão as costas e não dão satisfação. em todos esses casos, nos deixam como as loucas, as desequilibradas, as culpadas. enquanto romper um relacionamento honestamente geraria sofrimento pra ambos - o que os colocaria em pé de igualdade com a mulher -, ainda que a outra pessoa fosse sofrer mais por não estar querendo romper; dar as costas, ir embora ou ir minando um relacionamento até a mulher tomar uma atitude faz com que apenas a mulher sofra. ele, em geral, a essas alturas, já está em outra. e o pior não é sofrer essas coisas e passar meses tentando se recuperar de um rompimento traumático, humilhante e psicológica e emocionalmente violento. pior é ouvir outro homem dizendo que "é assim que as coisas são". a falta de empatia característica do gênero, nesses casos, chega ao ponto alto quando dizemos, já no último esforço, um "queria ver se fosse contigo!". neste caso, se colocar no lugar hipotético de alguém que sofre isso na pele é, ainda assim, um exercício de empatia. "se fosse comigo, eu não ia dar a mínima".

sair andando como se NADA tivesse acontecido é exatamente a mesma coisa que dizer que a outra pessoa E MERDA são a mesma coisa.

quando um homem diz que deixa 4 ou 5 mulheres de molho, na geladeira, na manga, mesmo que esteja "trovando uma", ele não está ferindo os sentimentos dessa a quem ele "trova". talvez nem os sentimentos das outras 3 ou 4 (ele VAI ferir, mas isso depois). mas ele está agindo dentro do mesmo sistema de pensamento que faz com que um homem mate uma ex-namorada porque "ela não pode ser de mais ninguém". exagero meu? não. porque o último caso é referendado, é legitimado, perpetuado pela ideia de que mulheres não são gente, não são seres humanos, não sentem e nem pensam como seres humanos que são. a maioria dos homens que acha muita graça e se ri dessa peculiaridade masculina de manter umas em banho maria pra uma fominha noturna está agindo como se a mulher fosse qualquer objeto: sem sentimentos, sem capacidade intelectual. agem como se homens e mulheres fossem de times opostos. de facções inimigas. e inimigos não têm sentimentos, não sentem dor, não têm família, aspirações profissionais, história de vida, nervos. é essa a origem da dificuldade de empatia do gênero. mas na origem, o homem era macaco também. hoje, a ciência nos levou ao espaço. mesmo com essas mentes pouco evoluídas de falsos civilizados. ainda se vê homens falando das namoradas como se elas fossem objetos inanimados, ainda se vê homens agindo como se o que eles fizessem não fosse ferir alguém, ofender, humilhar. a natureza já trata de nos oprimir com os imperativos biológicos do tempo. somos menos desejáveis quando mais velhas. mas quando o homem cravou a estaca da superação da natureza, inclusive subvertendo algumas tradicionais leis biológicas em nome da civilização e da civilidade, esqueceu que se éramos menos desejáveis quando envelhecíamos, era porque já não éramos mais férteis - e morríamos cedo porque nossa expectativa de vida era de 35, 40 anos. ainda hoje, mulheres são humilhadas por seus companheiros porque são preteridas por outras, mais jovens, e sentem ou enxergam claramente o motivo da troca. ainda que o imperativo da fertilidade e multiplicação dos gens não esteja em questão. se abandonássemos nossos companheiros depois da primeira broxada, como eles iriam sentir isso na pele? doeria. e quando um companheiro nosso sente dor, é um igual sentindo dor. e se abandonássemos os homens que, com 30 e poucos, ainda não ocupam um lugar de destaque na comunidade/sociedade, ainda que tivessem capacidade e oportunidades pra isso? e se abandonássemos os que não são ricos? menos mulheres fazem isso do que os homens gostam de acreditar e do que as piadas e propagandas em redes sociais propagam. muito menos. mas podem crer que essas, que fazem isso, não são feministas.

mas o que ainda não consigo entender, por mais que faça esforço com este meu cérebro de quem atingiu aos 32 um nível de doutoramento sem dever NADA a ninguém, é por que, com toda a liberdade sexual que se tem na atualidade, com a independência que se conquistou - que as mulheres conquistaram na base de muita luta e que beneficiam também aos homens - ainda existem homens que fingem que gostam de uma mulher pra conseguir alguma coisa com ela?! o que há de errado em ser honesto e dizer que não quer nada mais que sexo? o que há de errado em ter sexo com alguém e tratar essa pessoa, antes e depois do sexo, como igual, com respeito, com dignidade? o que há de errado em tratar alguém com respeito e cortesia independente de ainda querer sexo com esta pessoa? o que há de errado em ao menos assumir que se deixou de querer, que se mudou de ideia? ou em ser honesto sobre o que se quer e o que não se quer?

alguns podem - e de fato o fazem - supor que quando dizem isso, as mulheres fogem. bom, se eles não querem mesmo um relacionamento, se não estão apaixonados, se apenas estão atraídos fisicamente por alguém, a mulher fugir é sinal de que ela não quer só sexo. e isso deveria estar ok, pra um sujeito que só quer sexo. mas a maioria dos homens fala tudo o que pode pra fazer a mulher se sentir o máximo mesmo que isso seja só da boca pra fora. em sua covardia de assumir o que realmente acham ou querem, doa a quem doer, eles preferem mentir. em sua infinita dificuldade de empatia pra entender que se ela não quer só sexo não rola pra nenhum dos dois, ele acredita que fala o que a mulher quer ouvir (adoram dizer "mas as mulheres QUEREM ouvir isso". sim, queremos. se for verdade) em seu introjetado machismo de achar que mentir pra uma mulher em ordem de obter sexo e apenas sexo não é ofensivo, porque afinal mentir pra uma COISA não é o mesmo que mentir pra uma pessoa que tem sentimentos, eles fazem a mesma merda que qualquer homem que, em uma situação limite, estupra a menina que resolveu desistir do sexo. ainda que a mulher não queira mais do que um envolvimento físico que pode, ou não, se repetir algumas outras vezes, a maioria das mulheres trata o homem com o mesmo respeito com que trata qualquer um. a maioria dos homens, no entanto, parte do princípio de que elas vão pegar no pé.

o que faz com que você, rapaz muito pós-moderno e esclarecido, ache que é normal fingir que nada aconteceu e simplesmente sumir quando dias antes combinou algo com uma moça muito pós-moderna e esclarecida e só faltou colocar a moça num pedestal? o que faz com que você, homem muito amigo e já previamente resguardado de que a mulher não queria nada além de umas ocasiões pra suprir a carência física que todos os seres humanos têm, ache que tratando a "amiga" como se ela fosse descartável ela não ia se sentir assim mesmo, um ser humano lixo? por que tudo o que envolve sexo, com a maioria dos homens, têm que ser um jogo de poder de um ser humano sobre um objeto sem sentimentos capaz de suportar as piores faltas de respeito? o que faz com que vocês se ofendam tanto, maioria dos homens, quando uma mulher toma a iniciativa ou diz, claramente, que quer? é perderem a possibilidade de fingir pra vocês mesmos que vocês têm poder sobre as mulheres como homens têm poder sobre as árvores? ou é ver, com um susto grande, que mulheres pensam e sentem como vocês porque demonstram necessidades e estabelecem regras onde em vez de um beneficiado (vocês), ambos são beneficiados? confunde vocês quando, em vez de aceitar o quando e como vocês querem, as mulheres oferecem uma opção que fique melhor pros dois? porque se nos considerassem iguais a vocês, não confundiria. confunde e ofende porque quando isso acontece, a mulher demonstra que não é apenas um brinquedo que vocês usam quando sentem vontade e que deixam num canto quando não querem mais ou quando estão brincando de outra coisa. confunde e ofende porque sexo entre iguais ofende os machistas. os machistas curtem mesmo mentir pra conseguir sexo, forçar pra conseguir sexo ou conseguir sexo quando querem, como querem e com quem querem ainda que se achem muito não-machistas porque acham estupro um horror. machistas são assim, meninos mimados que querem o que querem, quando querem, como querem, ainda que o prejuízo ou a maior parte do ônus fique com o outro.

pois temos sentimentos. necessidades. e rotinas. não é AGORA. não é QUANDO VOCÊS QUEREM. e nem vamos ficar esperando enquanto vocês não querem. "os homens não gostam quando perdem o poder sobre a situação." não gostam porque isso os coloca diante da possibilidade real de ter que admitir que faz parte de considerar que as mulheres têm os mesmos direitos o admitir que elas são seres humanos jogando no mesmo time que eles. diante da possibilidade real e enfática de que entre iguais não existe jogo de poder. de que seres humanos que somos, todos procuramos exatamente as mesmas coisas. e quando os desejos e necessidades de uns são mais importantes que os desejos e necessidades de outros, isso não é igualdade. desculpem, homens machistas que ainda não sabiam que eram machistas: mulheres sofrem. não é por frescura, nem por TPM, nem por sermos frágeis ou sensíveis demais. é porque somos humanas. se o sofrimento (físico) que vocês não demonstram e nós, sim, for o exemplo de superioridade de vocês, então voltem a falar conosco sobre isso quando vocês passarem por partos com extrema dor e continuarem vivendo, trabalhando, e engravidando por escolha. e enquanto o sofrimento do homem engolido em seco for ovacionado como coragem e nossas dores expostas forem vistas como fraqueza moral, o machismo vai continuar fazendo homens e mulheres diferentes, enquanto tudo o que queríamos era oferecer apoio quando são vocês que saem machucados.

[ Penkala ] 00:40 ] 0 comentários

 
] segunda-feira, outubro 01, 2012
 
quando se sente que não se tem o direito de entristecer com o fato de não ser especial a ponto de ser uma prioridade, em qualquer circunstância, se vê que a solidão é um tipo de coisa que esvazia a gente de várias coisas. quando se pede desculpa por esperar, quando se sente menos importante que qualquer coisa, quando se sente um personagem, quando se sente como se estivesse incomodando. nada pode ser mais triste que se convencer que não merece ser a pessoa mais importante. ou talvez uma coisa seja, sim, mais triste que isso. se sentir culpado quando se acha que tem esse direito.

[ Penkala ] 00:32 ] 0 comentários

 
eu uso óculos




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